quinta-feira, 20 de maio de 2010

Frio

Dia cinzento, frio, opaco.
Pela janela vejo as plantas, balançando ao sabor do vento úmido.
Da chuva fina.
Aqui dentro, ambiente aquecido.
Mas continuo gelado.
Enrijecido pelo frio que castiga o meu íntimo.
O frio exterior não importa.
As plantas não sentem frio.

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domingo, 16 de maio de 2010

Saída

A casa em silêncio.
Ela estava sozinha.
Olhou seus livros na estante. Nada de interessante para reler.
Tirou a poeira de sua pilha de cds. Os mesmos cantores, os mesmos sentimentos.
Nada de novo.
Tentou dormir. Dessa vez sem Valium ou Lexotan.
A natureza faria a sua parte ?
Não.
Ela estava ligada. Não conseguiu se auto-derrubar.
Talvez porque não quisesse.
Ela queria o fogo de noites passadas.
Quando sua casa não estava escura.
E nem a solidão estocando suas entranhas como hoje.
Ela queria calor.
O calor que só ele poderia dar.
O fogo que só ele poderia trazer.
E que naquela hora seria apenas um sonho distante.
Pensar nele, fez com que ela sentisse o bico de seus seios se acenderem.
Fechou os olhos e sentiu aquele conhecido calor no meio de suas pernas.
Se deitou.
Descobriu o que precisava.
Sozinha, dessa vez na sua cama.
A casa em silêncio.
Quase nenhum barulho.
Apenas o ruído do vibrador.
Monótono como uma antiga canção de ninar.

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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Veias

A caneta estava sem tinta, mas suas palavras ainda eram tantas !

Teve que continuar em vermelho, com o que ainda tinha nas veias.

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domingo, 9 de maio de 2010

Irracional

A expectativa está aqui. Latente.
Parece uma sombra, que não sai do meu lado nem no quarto escuro.
A incerteza do que pode ser.
Eu que estou acostumado a decisões erradas, sinto o peso da expectativa.
Não posso errar a mão.
Nem prá mais, nem prá menos.
Preciso ir ao ponto. Exato. O centro do alvo.
Sinto que não é a hora de errar de novo.
Porém...
Se seguir a razão, enlouqueço agora.
Se seguir o que sinto, com todos os meus sentidos, sei que vou enlouquecer aos poucos.
Seria uma questão de tempo.
Essa minha obsessão, essa minha motivação irresistível para esse ato irracional.
Que é tê-la de novo.
É irracional. Contraria a clareza mental.
Dificulta o discernimento.
Queria poder gritar agora, e que ela ouvisse meu grito.
Queria que ela estivesse na minha cama agora.
E ela viria.
Ela quer vir.
Mas o que eu faço com o meu orgulho exagerado ?
Com essa minha necessidade de que tudo seja do meu jeito ?
É aí que se faz a dúvida.
Só não posso deixar isso crescer, porque a punição seria muito grande.
Seria perdê-la.
Irremediavelmente e para sempre.
E eu me perderia de novo.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Paredes

Dias e noites se passam e continuo precisando de ar.
Saio para a rua, mas o ar não aparece.
O vento sopra as folhas das árvores, faz redemoinhos de folhas secas.
Mas não é o suficiente. Algo sufoca.
Ignoro o ar gélido.
Tiro a camisa.
Respiro.
Não me basta.
A sensação de sufocamento persiste.
Não é física.
E o ar, talvez seja uma metáfora.
Volto para a casa com a sensação que pode existir um ar melhor a ser respirado.
Talvez seja o ar que circula entre as 4 paredes do meu quarto.

domingo, 2 de maio de 2010

Tempo

O fim de semana às vezes me parece promissor.
Sim, eu faço planos para o fim de semana.
Planos que talvez me forcem a uma retomada diferente na semana que chega.
Mas que engano.
Os finais de semana nada mais são do que dias com mais tempo.
E esse tempo a mais, a expectativa de tê-lo, me engana.
A nova semana está a algumas horas de chegar e nada muda.
Está tudo aqui, a mesma desordem.
E eu, burramente, já estou fazendo planos para o próximo fim de semana.
Hoje.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Clown

A maquiagem feita às pressas esconde aquele rosto triste.
Solitário espera chamarem seu nome.
É a hora.
Show time !
Não precisa sorrir, a pintura em sua boca se encarrega disso.
Faz mesuras, cumprimenta a todos.
Sem o menor entusiasmo, sua cabeça está longe dali.
A cada previsível gesto seu, pessoas fingem se surpreender.
O mesmo número repetido por uma vida toda.
Os risos sem fim da platéia soam como escárnio, zombaria.
Ah, se eles soubessem...
Ele dança,
Toma chutes,
Cai,
Leva as previsíveis tortas na cara.
E levanta.
Sorri.
Faz mesuras.
Para aquelas pessoas que riem de seus infortúnios.
Despreocupadas.
Sádicas até.
Será que ririam se vissem seu olhar por baixo da maquiagem pesada ?
Cai o pano.
Hora de tirar a maquiagem.

A menina no cesto de palha

Uma ilustração no blog de uma nova amiga me fez pensar.
Muitas vezes a gente se fecha de tal forma no nosso mundo interior, que a visão fica restrita.
Tão restrita que muitas vezes nem sabemos o que está lá dentro.
Dentro de nós.
Essa quase-cegueira louca, restringe tudo. O que achamos de nós, das pessoas, da vida.
E porque chegamos a esse ponto ?
Nem é o caso de questionar a vida. Mas sim, porque deixamos as coisas chegarem a esse ponto.
Começando a me questionar.
Mas na verdade nem sei se quero as respostas.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Bússola

Hoje ouvi algumas coisas que achei importantes a respeito desse meu atual estado de inércia, de vazio.
E na verdade o vazio está cheio. Está repleto de decepções, insatisfações, frustrações.
Na realidade o que estou procurando é fugir do caminho do rato. Sigo como um hamster, correndo naquela roda, na gaiola, correndo, correndo. E indo do nada para lugar nenhum.
E me acostumei a isso. E vou girando, girando.
O tempo todo ali.
Acostuma-se.
A situação é cômoda.
Saúde, tenho.
Dinheiro, o suficiente.
Condições de vida, o bastante para me manter vivo e acomodado.
Qual o norte ?
Alguém aí tem uma bússola ?
De preferência que aponte prá dentro.
Aqui dentro.

domingo, 25 de abril de 2010

Talvez

Caminho por aí.
Uma cratera se abre na calçada.
Caio.
Me perco.
E a esperança ?
Não, não há culpa nenhuma.
Mas tento, por instinto de sobrevivência encontrar a saída.
Saio.
No dia seguinte, passo pelo mesmo lugar.
Finjo não ver a cratera aberta na calçada.
Caio de novo.
Não tem importância.
A mesma sensação de estar sufocado me faz sair novamente.
E isso se prolonga pelos dias.
Vira um estranho hábito.
Amanhã quem sabe eu desvie, dê a volta.
Quem sabe andarei por outra rua.

Adiando o inadiável

Faz tempo que estou nessa vida meio "like a rolling stone".
Quero a urgência.
A iminência que algo pode acontecer.
Me sinto adiando alguma coisa, inadiável.
Saio de casa e vou para a rua. Está sol.
Tudo parece turvo, ruas, praças, bosques, pessoas.
Sinto como se fosse sempre mais do mesmo.
Gritos, risos, solidariedade, pequenez, mesquinharias.
Sigo meu caminho assim. Ereto, impávido.
Retribuo aquele bom dia a quem me cumprimenta.
Sorrio de forma vazia. Ninguém percebe.
O tamanho da indiferença aqui dentro tem o poder de cegar.
Sol, árvores, barulho, nada tem o poder de me tirar desse estado letárgico.
E o que eu estou fazendo com essa jaqueta de couro ?
O calor me desperta, o abafamento dentro da roupa soa como a vida abafada. Lá dentro.
Estou na rua, mas preciso de ar.
Volto prá casa.

sábado, 24 de abril de 2010

Vazio

Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite ?

Eu não.

Cinzas

O amanhã respira ofegante e vaidoso.
Polui ar respirado pelas pessoas que gemem.
O corpo levita, sorrateiro.
Por entre prédios, muros, apartamentos.
Cinzas.
O pior parece prestes a vir, se engolfando por entre as frestas.
Calma.
Talvez o pior dos sentimentos agora.
Os pés cravados no chão.
Mórbidos.
Não existem mais profecias no asfalto molhado.
Sina.
Quando a dor perde o sentido.
Vislumbramos atônitos,
A chegada do fim.
Apáticos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Celsius

Tem dias que tudo parece estar em paz.
Tem dias que essa paz aparente me consome.
Tem dias em que preferia o inferno da raiva, do ódio, da fúria a essa maldita indiferença que algumas vezes essa paz proporciona.
A paz é o morno.
E eu quero o quente. A ebulição. E que venha de onde vier.
Mas venha.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Submersão

- Tenho sido minha pior inimiga - disse ela.
- Não tenho nada a lhe oferecer - declarei friamente.
- E na verdade, eu, um nada, nada tenho a oferecer à você também - replicou ela.
Será que existe mesmo um momento como esse, em que a lâmina fica erguida no ar, durante uma pausa de intensidade infinita, antes de agredir ?
Estava feito. Ouvi quando ela inspirou subitamente. Eu não pude olhá-la.
- Destruí a única coisa que realmente tinha importância prá mim - ela disse.
Senti seus dedos permanecerem em minhas costas, como se romper o contato fosse nos lançar em uma nova e triste era chamada "para sempre" ou "para o resto de nossas vidas".
Voltei então, à procura de um lugar isolado onde meu coração pudesse morrer em paz.
Mas a vida continua. Não estou morto. Pelo contrário, sou um homem sem nada a perder. É um fenômeno inteiramente diferente. Não pretendo fazer carreira de desespero ou filosofar em cima do que poderia ter sido.
O que preciso agora é acabar com o restante da suavidade, ou quem sabe submergir no esquecimento.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Fantasias grotescas

Sinto necessidade de prosseguir. Não tenho ilusões nesse sentido. É o sinal do instinto caçador. Minha mente volta a vacilar. Deixo-me levar por grotescas fantasias - classifico-as de grotescas apenas por convenção: para mim são perfeitas, dignas, tão profundamente naturais que às vezes não posso aceitar que as outras pessoas não se abandonem secretamente a esses pensamentos. Não posso acreditar que esteja só.

Prática

- Tudo parece uma piada para você ! - ouvi
- Mais ou menos - concordei, com facilidade.
- Você é um depravado !
- Não somos todos ? Há realmente alguma diferença entre você e eu ? Apenas sou mais honesto comigo mesmo.
- Não tem vergonha ?
- Ela some com a prática, não é mesmo ?

Labirinto

Hoje minha vida é um labirinto, e tateio o caminho das sombras. Antes, há algum tempo, parece, pensei que me movia na direção da luz. Sabia que muitas vezes meu progresso era lento, com alguns recuos e erros, mas sempre tendia para a verdade, o conhecimento. E acho que finalmente descobri que esse caminho, este tipo de vida, está totalmente vedado para mim. Em vez disso, estou seguindo um destino instintivo, como uma isca pequena e difícil de perceber, colocada nas passagens do labirinto. Não sei para onde a isca me levará, nem o que encontrarei no final, se o fogo do inferno, o rugido do Minotauro ou, pior que tudo, silêncio, saciedade, nada.

Eu, monstro.

De todas as formas, quero possuí-la do meu modo pervertido tanto quanto quero a vida.

Isso é amor, dizemos nós, monstros, a nós mesmos. Amamos de um modo ardente demais, antigo demais, honesto demais. E também, bestialmente demais.

O amor é a última grande mentira. Há pouco que se possa dizer sobre um amor tão arrasador, tão cheio de desejos de se tornar um só ser, que o amante corta o pescoço da amada a fim de beber o jorro vermelho, denso e quente, todo, até o último estremecimento do coracão agonizante.
O que resta quando a verdade é revelada ? A vida do monstro é um árido deserto. Nela há somente sua obsessão; todos os demais detalhes da existência diária são construídos sobre essa relevância. A humildade desaparece tão devagar do tecido de nossa mente que só o notamos quando já não existe quase mais nada. É esse último resíduo que mais nos perturba.

Esta é um pouco da extensão da minha estupidez.

Todavia, mas, porém...


Já fui um blogueiro razoavelmente conhecido.
Cansei, parei. Mudei.
Por isso resolvi recomeçar este blog como o anônimo que sou. Do zero.
Com isso decidi remover todos os posts, comentários e seguidores de antes. Que neste blog eram poucos.
Hora de reescrever o blog. Quem sabe a vida ?
Indecisão ?
Não, essa palavra não costuma constar no meu vocabulário.
Mas muitas vezes, , até em nome daquele velho conhecido "jogo de cintura", precisamos nos mostrar flexíveis, entender, relativizar...e mesmo não conseguindo fazer isso do fundo da alma, precisamos soltar umas dessas palavrinhas.
E depois delas, um silêncio de alguns segundos.
É o tempo exato de deixar a outra pessoa respirar...e de você não tomar atitudes intempestivas.
Pode soar como indecisão ? Pode.
Pode soar como uma chance para o interlocutor ? Pode.
Pode soar como nada ? Pode.
Todavia...