terça-feira, 20 de abril de 2010

Submersão

- Tenho sido minha pior inimiga - disse ela.
- Não tenho nada a lhe oferecer - declarei friamente.
- E na verdade, eu, um nada, nada tenho a oferecer à você também - replicou ela.
Será que existe mesmo um momento como esse, em que a lâmina fica erguida no ar, durante uma pausa de intensidade infinita, antes de agredir ?
Estava feito. Ouvi quando ela inspirou subitamente. Eu não pude olhá-la.
- Destruí a única coisa que realmente tinha importância prá mim - ela disse.
Senti seus dedos permanecerem em minhas costas, como se romper o contato fosse nos lançar em uma nova e triste era chamada "para sempre" ou "para o resto de nossas vidas".
Voltei então, à procura de um lugar isolado onde meu coração pudesse morrer em paz.
Mas a vida continua. Não estou morto. Pelo contrário, sou um homem sem nada a perder. É um fenômeno inteiramente diferente. Não pretendo fazer carreira de desespero ou filosofar em cima do que poderia ter sido.
O que preciso agora é acabar com o restante da suavidade, ou quem sabe submergir no esquecimento.

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